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AMOR DE COMIDA

Em uma dessas conversas na vida me deparei com uma frase: “meus pais não sabiam expressar o seu carinho de forma física e compensavam isso dando comida”.
Fiquei pensando e olhei meu passado, de fato era mesmo isso que acontecia.

Para quem nasceu na década de 70, teve mais liberdade para brincar na rua, então retornava para casa para comer e dormir, passávamos de fato pouco tempo em casa. Naquele tempo cabia exclusivamente a mulher cozinhar, passar, cuidar da casa, etc…com isso não havia muita interação com os filhos. Tínhamos horários rígidos para as refeições, se não tomasse café da manhã no horário, a próxima refeição era o almoço e não adiantava pedir comida antes do horário que levava bronca… e ai, ai, ai se deixasse resto no prato…
Tinha que comer o que era servido, sem muito poder de escolha.

Assim, passavam-se os anos e as coisas pouco mudavam, as refeições, claro, eram muito boas, havia um grande prazer naquilo.

Outro ponto de vista do “amor de comida” foi o que aconteceu com minha esposa, como meu sogro trabalhava o dia inteiro e a mãe sempre foi muito ausente, era ele quem cozinhava durante a noite e como a profissão que ele exercia permitia almoçar em casa, muitas vezes era esse o horário para as conversas sobre a vida, dia a dia, além da recordação da boa comida, havia também o momento do diálogo, algumas vezes o silêncio e somente estar junto bastava.

O tempo então passou, as coisas evoluíram, ou não. As relações familiares se modificaram, hoje as crianças permanecem o maior tempo em casa, pois a rua não é lugar de brincar e aprender. Os pais continuam atarefados e talvez sem muito tempo, vontade, imaginação para interagir com os filhos, pois, na infância da década de 70 e 80 não tiveram esse exemplo ou aprendizado. Uma forma de compensar isso tudo seria as grandes redes de fast food, onde as cores, brindes e se tornar parecido com o que a propaganda mostra são fortes atrativos e apelo.

Mesmo quando os tios, primos, etc, ficam com as crianças, qual o programa mais comum? Cinema, pipoca e McDonald’s. Então, mesmo com o passar do tempo, ainda é possível verificar esse amor de comida. Em tempos modernos comida também é demonstração de amor.

Certa vez presenciei uma situação que achei fantástica:
Em um parque de diversões uma mãe comentou com outra:
– Meu filho de tão gordinho nem consegue correr direito. Também, passa o dia no vídeo game, come um pacote de bolacha recheada com refrigerante, se deixar come todos os salgadinhos da dispensa em uma semana.
Outra mãe olha espantada:
– Nossa!!! Seu filho é quem faz a compra no mercado? Ele decide tudo o que vai comer? Mas você não é a mãe dele?

A mãe ficou corada e acabou a conversa.

Pois é, a alimentação dos filhos é de inteira responsabilidade dos pais, educar, ensinar, preencher as lacunas é obrigação dos pais, jamais deixar a conveniência e a culpa suprir isso.

Então esse “amor de comida” remete a muitas coisas, como a ausência, mas também a uma ótima lembrança, saudades ou até mesmo uma falta de referência.

Para mim é um prazer cozinhar para minha família, todo aquele ritual, a música, a cachacinha, a organização e é claro, todos à mesa para saborear. Tenho certeza absoluta que isso será uma marca na vida deles, pois eles lembram das músicas que eu gosto de ouvir, do meu ritual. Claro que a vida da família é mais dinâmica que isso, mas considero esse um momento bom. Cozinhar com coisas frescas, com sabor, com qualidade, comida equilibrada que eu sei que é a mais saudável possível.

Em algumas situações em que fomos comer em restaurantes, o “maitre” perguntou aos meus filhos se a comida estava boa, e ouviu deles:
– Meu pai cozinha melhor que você!
Ver a cara do maitre não tem preço, fui até convidado a fazer uma entrevista. Muito bom isso.

Mas não quero deixar só isso de legado, também faço e incentivo a natação com eles, teatro, vida ao ar livre quando possível. Adoramos praia, etc…
Acredito que é muito importante para a vida ter esse ” amor de comida” para trazer boas recordações! E você, qual é o amor de comida que você deixará de legado?

**Texto de César Kutzma, meu cliente, que retratou de uma forma linda e sensível os princípios que acredito. Qual é a relação que estabelecemos com a comida? O resultado que temos é decorrente das escolhas que fazemos!!! Em que suas escolhas estão fundamentadas? Nós temos o “poder” de influenciar! Que tipo de influência você está exercendo nas pessoas à sua volta? E nossas ações deixam lembranças e saudades! Qual seria a lembrança “amor de comida” que seus filhos teriam hoje de você?

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